Comentário

<i>Paz para 2009</i>

Natacha Amaro
O ano começou mal. Fala-se de crise e de que 2009 será ainda mais difícil. Independentemente da situação económica e financeira dos países, e apesar das suas consequências dramáticas para as populações e os trabalhadores, o momento actual coloca com urgência a necessidade de paz.
Os últimos dias de 2008 e os primeiros do novo ano foram marcados com imagens e notícias – poucas, porque o bloqueio aos meios de comunicação social impede o acesso à informação detalhada e actualizada sobre o que se passa – sobre a dimensão da tragédia humana e do horror que o povo palestiniano sofre, perante a ofensiva militar sobre a Faixa de Gaza. Qual crónica de um genocídio anunciado, Israel decidiu arrasar um território, o seu povo, infra-estruturas mínimas de sobrevivência, em nome do combate ao terrorismo e da defesa do seu Estado. Das cúpulas do imperialismo surgem ecos de «apoio e compreensão» ou silêncios cúmplices, perante a desproporção de forças, os falsos argumentos e a ignomínia. Mas de vários pontos do planeta emerge um grito de revolta pelos crimes perpetrados, pela injustiça das centenas de mortos e milhares de feridos, entre eles muitas mulheres e crianças, pelas consequências do cerco terrível imposto pelos muros cujas portas se fecharam a qualquer trânsito.
Das várias reacções internacionais, algumas mais esperadas que outras, há a destacar a posição inacreditável do Conselho de Segurança das Nações Unidas, ao não conseguir um acordo num texto que condenasse a agressão, ou o silêncio de Barack Obama escudado na premissa de que «só há um presidente dos EUA em exercício» (engraçada, a argumentação, que não se aplica, obviamente, a nenhum outro assunto da agenda nacional ou mundial). A presidência da União Europeia também teve a sua quota-parte de declarações com interesse. Ainda em 2008, e com Sarkozy nos comandos da presidência, uma reunião de emergência dos ministros dos Assuntos Externos avançou a necessidade de cessar-fogo imediato, a ajuda humanitária urgente e a retoma do processo de paz. Sempre colocando ao mesmo nível de responsabilidade e intervenção as duas partes do conflito! Com o virar do ano, a nova presidência da UE foi entregue ao governo da República Checa (para nos situarmos, estamos a falar do país onde há bem pouco tempo foi ilegalizada a Juventude Comunista). E logo nas primeiras declarações, o porta-voz da presidência considera a agressão de Israel como «uma acção defensiva e não ofensiva». O ministro checo dos Negócios Estrangeiros ainda veio a público informar que era apenas uma opinião pessoal, que foi um erro do porta-voz e um mal entendido. A quem acompanha as políticas de governo checo surge a dúvida se lhe terá «fugido a boca para a verdade».
Nesta semana deslocou-se ao Médio Oriente uma delegação da UE com o objectivo de aliviar a grave situação humanitária em Gaza. Contribuir para um cessar-fogo fez também parte da agenda, com um peso menor, sendo prontamente recusado pela ministra israelita dos Negócios Estrangeiros. Melhor seria se reavaliassem os muitos milhões de euros que anualmente são transferidos do orçamento comunitário para Israel em «programas e apoios».

Crime he­di­ondo

Hoje, às 18 horas, em frente à Embaixada de Israel, em Lisboa, todos seremos poucos para denunciar, para rechaçar, para repudiar o crime hediondo israelita. Todos seremos poucos para exigir, para reivindicar, para impor uma retirada imediata das tropas de Israel da Faixa de Gaza e o reconhecimento inequívoco do povo palestino a existir condignamente no seu país. Hoje, na concentração marcada junto à representação diplomática de Israel, juntaremos as nossas vozes para pôr um fim a esta investida, para exigir do Governo português a condenação definitiva desta agressão e para nos solidarizarmos com o povo palestino.
Para 2009, deseja-se um ano melhor, com melhores condições de vida, com mais direitos para quem trabalha. Mas acima de tudo, deseja-se a paz, sem a qual nada se constrói. Seria uma vitória extraordinária dos povos que este fosse o ano em que a defesa intransigente da paz e a exigência do fim dos conflitos, numa clara valorização da Humanidade, voltasse a ser um objectivo central de todos e um valor inquestionável, repudiando a banalização do horror e a trivialidade da violência. A cultura da paz, que já tanto floresceu em Portugal e em muitas partes do mundo, é necessária e obrigatória. Para 2009, desejo paz para todos!


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